Aprender significativamente é um processo de construção ativa de quem aprende, não apenas um processo de recepção de conhecimento pronto que milagrosamente sai de uma página escrita ou da boca de alguém e vai parar no seu cérebro. Não, não existe um tubo de transmissão de conhecimento que magicamente faz brotar um conteúdo dentro do seu cérebro. Seria bem fácil assim, mas não é o que acontece.
Então você sabe o que é comum que as pessoas façam, mas que não as ajudam a aprender de modo mais eficaz?
- Estudar de véspera: pode até dar conta de algumas coisas e dar a impressão de que é eficaz porque fica ali durante um curto período de tempo na sua memória – já que as coisas mais recentes tendem a ser lembradas. Mas não se engane, não ajuda muito a lembrar depois. Exceto pessoas que tem super memória que, acredite, são bem poucas.
- Ler (apenas): ler, ler e ler. Já parou para pensar na atividade que isso tem? Pois é, quase nenhuma, ficamos na posição passiva de “absorver” aquilo que está escrito e isso, acredite, é bem pouco eficaz se você quer realmente aprender algo.
- Grifar (apenas): sublinhar, sublinhar e sublinhar. O mesmo princípio anterior, com a falsa ilusão de que você está fazendo alguma coisa. Quem grifa tudo, não grifa nada, porque não separa as peças centrais e, acredite, ainda está em uma posição passiva dentro desse processo.
Agora que eu já sei o que não ajuda, o que ajuda?
Parta do princípio que nós somos protagonistas de tudo o que acontece na nossa vida. Protagonistas. Atores principais. Aqueles que ganhariam o oscar de melhor ator/atriz num filme. Pois é, na sua vida esse personagem é… VOCÊ.
Isso significa que você é ativo na sua própria vida, certo? O mesmo acontece com aprender. Aprender depende da sua elaboração do conteúdo. Em outras palavras, das relações que você faz entre aquilo que você recebe do outro e tudo aquilo que já está guardado dentro de você.
(O termo técnico para os curiosos de plantão ou psis que passam por aqui seria “armazenado na memória de longo prazo”).
Tudo isso vai interagir para criar um jeito único de aprender algo, que se relacione com as demais coisas e façam sentido e um jeito que parece filme, não apenas uma fotografia estática.
Faz sentido pra você?
Então vamos continuar.
Um fato psi histórico aqui pra vocês: um cientista psicológico, muito curioso, há tempos atrás, queria saber como era o melhor jeito de aprender coisas novas, tendo ele mesmo como sujeito do estudo. O nome deste psicólogo era Ebbinghaus e, pasme, ele fez isso em 1885! (Baddeley, Anderson e Eysenck, 2011). Ebbinghaus criou uma lista de sílabas sem significado para que ele pudesse aprendê-las. Dentre alguns dos resultados encontrados por ele estavam duas constatações:
- Quanto mais tempo era empregado para aprender, mais coisas eram aprendidas
- Quanto mais se divide o conteúdo ao longo de dias para ser aprendido, mais eficaz era o aprendizado.
Esse preceito é válido até hoje.
O que nos leva às nossas 3 dicas:
UM: Pratique, pratique e pratique.
De preferência distribua o conteúdo a ser aprendido em alguns dias. Repita o processo ao longo de vários dias e em tempos mais curtos. Acredite, mais dias e menos tempo é mais eficaz do que muito tempo em um só dia!
É, aprender leva tempo e demanda repetição. Então o que mais?
Bem, fazer provas e falar sobre o que se aprende é um processo de memória explícita, em que, de modo simplificado, significa que é possível explicar com palavras o que foi aprendido. O que nos leva a:
DOIS: Fale sobre o que você está estudando.
Seja ativo no que está aprendendo. Explique a você mesmo. Dê-se aulas, ensine aos outros: seu irmão/irmã mais novo, seu gato, cachorro, sua avó, você no espelho, use sua criatividade acerca da sua plateia. Elabore este conhecimento, estabeleça relações. Não tenha vergonha de falar em voz alta sobre isso. Agindo assim, você está ativamente atuando sobre o que quer aprender. Esse processo de recuperação potencializa a aprendizagem. Em termos técnicos: a consolidação na memória.
(Atores não praticam suas falas em silêncio, certo?)
MAIS:
Você também pode elaborar um questionário com perguntas de determinada matéria para ser sorteado e respondido por você mesmo(a). Então aquilo que não souber responder, já sabe que é necessário estudar um pouco mais.
Crie esquemas, desenhe, faça músicas. Use a sua criatividade!
Para aprender, é preciso elaborar.
Por fim, mas não menos importante, o descanso. Contrariando toda a ideia de que dormir é perda de tempo…
TRÊS: Durma. Descanse.
A fixação do conteúdo é extremamente dependente do sono. Toda a informação a ser aprendida depende do hipocampo, que cria essas conexões com outros conteúdos. Tomar cuidado com a quantidade de sono necessária à sua faixa etária ou ao seu corpo, e se dar descansos ao longo do estudo é fundamental. O cérebro precisa respirar. Se não respirar, ele cansa e não aprende mais nada.
Esse não é o objetivo, certo?
Lembre-se, se essas informações ainda não forem suficientes para te auxiliar ou te ajudar a auxiliar alguém no processo de aprender, estou sempre disponível para ajudar.
Essas dicas, com algum carinho, também podem ser aplicadas ao processo emocional 😉
Abraços,
Giuliana
Referências bibliográficas:
Baddeley, A. D., Anderson, M. C. & Eysenck, M. W. (2011). Memória. Porto Alegre: Artmed.
Cosenza, R. M & Guerra, L. B. (2011). Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed.